segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mulheres ainda têm pouca visibilidade na política


amb-estandarte






A cientista política potiguar Joluzia Batista, 40 anos, é uma das colaboradoras da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) que luta pelo fortalecimento de políticas públicas para mulheres.
A ativista analisa porque a maior parte dos partidos não tem quadros femininos para preencher a cota de 30% - determinada por lei - nas nominatas aos legislativos.
MEL BLEIL GALLO/CFEMEA/DIVULGAÇÃO/JC
Para Joluzia Batista, um dos desafios é ampliar a pauta para além das questões de gênero
Para Joluzia Batista, um dos desafios é ampliar a pauta para além das questões de gênero
Joluzia explica que a própria estrutura de organização dos partidos se torna um obstáculo para o ingresso de mulheres, excluindo-as da linha de frente das disputas internas e direcionando poucos recursos para investir em suas campanhas. A cientista defende que as legendas aprimorem a relação com o público feminino e usem mais recursos do fundo partidário para capacitação dos grupos direcionados às mulheres.
Para uma mulher se colocar como liderança e disputar a chapa majoritária, primeiro ela tem que ter uma pauta de disputa ampliada. Uma mulher nunca vai chegar para disputar uma chapa majoritária com uma agenda restrita ao mundo das mulheres, dizendo vulgarmente. Tem que pensar o partido de forma ampla, heterogênea. E os partidos não conseguem enxergar que elas não podem entrar com essa pauta tão restrita para as candidaturas majoritárias.
Falta presença das mulheres nos cargos diretivos ou no próprio Parlamento, seja municipal ou estadual, que é um ponto limitante. Mas a disputa interna partidária na composição das chapas é violenta. Muitas vezes lideranças femininas de bairro se ausentam desse processo. Não é toda mulher que tem o suporte financeiro, político e, muitas vezes, emocional para aguentar esse embate partidário na disputa por vagas ou para figurar mesmo nas chapas majoritárias. É predominante a forma de fazer política muito masculinizada.
Nessa esfera do âmbito municipal, as mulheres estão muito submissas ainda a esse cuidar da casa e depois da vida pública. Isso já vem de muito tempo: o espaço não é nosso, é uma conquista diária. É interessante observar que nas últimas eleições municipais algumas prefeitas conseguiram, inclusive, se destacar em cima desse conflito, pegando como uma oportunidade. Houve até cenas ridículas, como a de uma candidata que disse que tinha que encerrar o comício para ir para casa cuidar dos filhos. Para dizer “além de prefeita sou mãe”, o que mostra que até de forma institucionalizada a mulher tem que ir acumulando as três jornadas. Isso é uma coisa séria que temos que combater no campo simbólico. Leva também a achar que porque a gente cuida bem da família, vai fazer faxinas ou arrumar a casa no âmbito público, sanear as contas. Tem muito desse imaginário que também está grudado na presidente. Ainda é muito difícil estarmos nesses lugares por nós mesmas, por convicção partidária, por ideologia ou porque somos cidadãs e queremos participar de um projeto.
Nas próximas eleições teremos que analisar o saldo das anteriores do ponto de vista das punições e advertências aos partidos que não conseguiram cumprir com a formação das mulheres. Saber também se os partidos pensaram na capacitação das mulheres e ainda quantas mulheres negras e portadoras de necessidades especiais foram incluídas. Poderemos fazer uma prestação de contas também de quanto do percentual do fundo partidário foi usado para essa formação.

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